Ontem comecei o dia com um transporte de uma pessoa saudável. Outros não poderão dizer o mesmo. Depois dirigi-me a uma filial credenciada de uma empresa de telecomunicações para resolver dois pequenos problemas. Resulta que "estavam sem sistema". Eu, que vivo sem sistema desde que me lembro, perguntei-lhes porque estavam abertos. É curioso como estas pequenas contrariedades me transtornam. Recuperei as minhas funções de transporte e, ganhando o tempo devido ao almoçar no carro, e porque eu queria ver a neve na Serra da Freita, consegui passar a Farrapa às duas da tarde e começar a subir para a dita Serra logo depois. ali onde rodamos à esquerda e logo depois um desvio para a direita começa a subir a sério. Eram já uns quantos carros a subir em fila mas nada de especial. Na Farrapa dois restaurantes tinham estacionamento à porta. Pensei para mim que à volta isso podia ser um problema. A subida termina com o acesso ao planalto da Freita, onde farrapos de neve se distribuíam por todo o lado, a contento das gentes que por aqui e ali estacionavam. Os pontos mais altos estavam completamente cobertos de neve. A fila de carros agora já era compacta. Parei onde consegui para não atrapalhar a avidez alheia de diversão e eu e a minha filha fomos enterrar os pés na neve. Divertimo-nos assim aproximadamente vinte minutos. Depois voltei a entrar na fila para, com a ajuda da Protecção Civil, fazer inversão de marcha no Merujal. Nunca tinha descido da Serra da Freita pelo caminho de subida. Habitualmente seguimos por ela adentro até terminar a norte e descer para Arouca. A descida em direcção - outra vez - para a Farrapa é deslumbrante. Lá em baixo era verde e havia sol. Com a neve ainda à minha direita parecia estar a conduzir entre dois mundos. Num dia mais aberto ver-se-á o mar. Descia cinquenta minutos depois de ter subido. Constatei, assim por largo, uma fila de automóveis de uns cinco quilómetros a querer subir. Não havia neve que chegasse para esta gente toda. Claro que o estacionamento nos restaurantes da Farrapa atrapalhou o desaguar do trânsito. Eu bem sabia. Utilizei para voltar - como tinha utilizado antes em sentido contrário - aquela famosa autoestrada que desnecessariamente liga Gaia a Oliveira de Azeméis. Que me permitiu estar a entrar na cidade do Porto vinte minutos para as quatro. Não percebi bem de que lado do Parque da Cidade tinha que fazer a próxima entrega e este não entendimento provocou alguma distimia. É curioso como estas pequenas contrariedades me transtornam. Meia hora depois das quatro estava em casa e adormeci. Duas horas depois procedi a nova recolha e o novo destino foi Ovar. Ovar estava a sobreviver surpreendentemente bem ao frio. A cadela que dirige os destinos de Ovar ficou sem assunto de conversa ao fim de quarenta e cinco minutos de carinho mútuo. O jantar foi de uma abundância superlativa, embora o arroz, como sempre, estivesse frio. Não consegui - não conseguimos - evitar o visionamento de um canal televisivo generalista onde habilidades eram travestidas como arte. A retirada foi antecipada e estratégica. No Porto o SyFy terminava a "Idade do Gelo" e noutro canal corria "The Americans". Deitei-me, tentei folhear "Alexis" de Yourcenar mas não consegui.
Duas perguntas acompanharam-me durante todo o dia. As respostas não tiveram a decência de comparecer ao encontro.
Duas perguntas acompanharam-me durante todo o dia. As respostas não tiveram a decência de comparecer ao encontro.
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