terça-feira, 26 de abril de 2016

Vinte e Seis de Abril.

Lembro-me de uma conhecida de ocasião me descrever Marco de Canavezes como sendo 'verde, verde, tudo verde'.
Ontem foi o dia da festa. Mas o que vem depois é que importa. Ir até ao Marco é fácil. Embora não fosse o meu objectivo do dia decidi voltar a espreitar a Igreja de Santa Maria, obra de Siza Vieira, até para confirmar que lhe conhecia bem o caminho. Foi fácil encontrá-la. Marco de Canavezes é uma pequena cidade que se desenvolve numa encosta que vê do outro lado a Serra da Aboboreira. Vira as costas ao Rio Tãmega, poderoso afluente do Douro. Junto ao Tãmega ficam as velhas Caldas de Canavezes, em renovação. Portanto, esta terra começou junto ao grande rioo mas depois terá preferido a segurança de uma encosta. O Marco é cidade, bonita ou feia - escolham - em parte por culpa de um autarca que o/a governou 22 anos. A Igreja de Santa Maria é, já disse, fácil de encontrar - não percebo como há três anos passei três quartos de hora à sua procura. Está rodeada pela típica construção cívil apressada portuguesa dos anos 80-90. Não sei se Siza contemplou esta condicionante. Parece que sim. É engraçado o quanto se discutiu o entorno da Casa da Música no Porto, sendo que esta, pela volumetria, sobreviveria bem praticamente a qualquer merda que lhe pusessem à volta.
Mas a verdade é que o Marco tem uma igreja desenhada por um Pritzker e, já agora, lindíssima. Desta vez não entrei. O interior, avanço, é um deslumbramento. O exterior... tem problemas de humidade, reboco, etc. Siza não terá contado com o quanto chove no Marco? Há muitos anos visitei a Batalha e a degradação do revestimento centenário do mosteiro causou-me impressão. Tal a Igreja de Santa Maria, com a diferença de ter apenas vinte anos de construída. Paradoxalmente os edifícios que a rodeiam - os tais de péssima qualidade - parecem melhor conservados. E a serra, claro, essa não tem qualquer imperfeição. As casas de má qualidade criaram uma cidade. Onde a Igreja de Santa Maria parece estar a mais.

E pronto, o meu 'dia depois da festa' fez-me pensar nestes 42 anos que passaram, uma estranha mistura de Avelino Ferreira Torres e de Siza Vieira. Talvez a solução para este estranho divórcio no coração das gentes esteja algures por aí no virar de uma esquina... que ainda não se virou.

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