terça-feira, 24 de janeiro de 2017

domingo, 15 de janeiro de 2017

Quinze de Janeiro.

Quando alguém diz "uma volta de 360 graus" habitualmente não é isso o que quer dizer e quem ouve começa a rir e a fazer mofa - ah, Gil Vicente! - do prelector.
Eu, for once, acho que estou em vias de perfazer uma rotação de 360 graus nesta minha vida. Coisas há, é certo, que não se repetem. Quando foi a última vez que fiz uma chamada numa cabine telefónica? Isto só para citar um exemplo e deixar no ar todo um resto de actividades há muito perdidas na névoa dos tempos e que não voltam mais. Há, sim, sucedâneos. A nossa vida está mais parada: há um Continente em cada esquina. Agora a ecolocalização humana está muito mais aperfeiçoada, embora tenha sempre aquele reforço oral que se antecipa a um "Boa tarde!" com o imperial: "Onde estás?". Pergunta que deixei de fazer. A resposta diplomática? "No Continente!".  Nah... Aqui e ali direi sim onde estou (numa ilha). E, ocasionalmente, até poderei comentar como.

Entretanto, não esquecer, amanhã comprar arroz e gel de banho.

quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Doze de Janeiro.

Passei tanto tempo a dormir. Em horas incertas. Porque incerto o trabalho. Mil livros, cinco mil canções, moedas caídas no passeio. Outonos, Verões.  E o Inverno. Condução, um engano. Que se repete. Condições impostas, expostas, o sempre buscar e  não encontrar o incondicional emprego. Do tempo. Horários, oh os horários! Brilho, sujo. Raramente a explicação por extenso. Ser leal porque não se aprendeu de outra maneira. A Primavera que pode sempre ser que aconteça. A pouca e mandada roupa. A espera. A demora. Esta ansiedade a toda a hora.

E  o que fazer com a velha chama?

quarta-feira, 11 de janeiro de 2017

Onze de Janeiro.

É velho esse conflito, o que fazer com o segundo botão da camisa, apertá-lo ou não, também esse teu sorriso todo lábios, o corpo para trás e depois avançaste, decidiste que o botão era para não apertar, queixei-me, que tolo, tu nunca foste de te queixar, e trabalhar era e deve ainda ser o teu alimento, anos duas dúzias, estamos velhos, não, só eu estou. 

sábado, 24 de dezembro de 2016

Vinte e Quatro de Dezembro.



"Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Encontro-me parado...
Olho em redor e vejo inacabado
O meu mundo melhor.

Tanto tempo perdido...
Com que saudade o lembro e o bendigo:
Campos de flores
E silvas...

Fonte da vida fui. Medito. Ordeno.
Penso o futuro a haver.
E sigo deslumbrado o pensamento
Que se descobre.

Quem não me deu Amor, não me deu nada.
Desterrado,
Desterrado prossigo.
E sonho-me sem Pátria e sem Amigos.
Adrede."

O poema acima chama-se "Linha de Rumo". Escreveu-o Ruy Cinatti no livro seu com o feliz título "O Livro do Nómada Meu Amigo". Demorei anos a buscar o significado da palavra "adrede", que desconhecia. Pareceu-me evidente que ao ser escolhida para terminar um poema com o título "Linha de Rumo" seria interessante que implicasse um paradoxo, isto é, a ausência do mesmo rumo. Isto tinha também algo a ver com o meu conhecimento, superficial, da vida pessoal de Cinatti, talvez o nómada português mais interessante desde a odisseia de Fernão Mendes Pinto. Superficial porque a procura de Cinatti foi sempre dirigida, afinal. E ele sim que NUNCA abandonou Timor, para dar apenas o maior exemplo. Sabia portanto o que queria, para onde ia, a quem devia ser leal.

Adrede: (advérbio) de propósito, expressamente, propositadamente.

Não paro de aprender com Ruy Cinatti. Afinal...

PS.: por alguma razão um dos escritores de que mais gosto chama-se Bruce Chatwin.