sexta-feira, 1 de julho de 2016

Um de Julho.

Não foi um dia fácil de consulta. Muitos doentes mais suas queixas periféricas, digestivas, cutâneas, auditivas. A lentidão do "sistema". O sono porque foi uma noite mal dormida.
Lá fora cortavam a relva. E o som do cortador de relva lembrava-me da existência de um mundo exterior e que a consulta, tarde ou cedo, acabaria. Era um som amigo, uma distração, um alivio. 
Saí da consulta por uma das muitas razões que às vezes é conveniente sair de uma consulta. Quase fui atropelado por um ainda jovem médico que vituperava os computadores, oh os computadores!, e "um lunático que lá fora não pára de cortar a relva, como é possível!". Que não ouvia os doentes, que não os ouvia! Voltei para dentro, a relva continuava a ser aparada, na realidade não era fácil auscultar assim, mas também porque o ainda jovem médico continuava aos berros; ouvia-o bem apesar do aparar da relva e dos ruídos adventícios. 
Pensando bem, eu acho que o problema do ainda jovem médico não era ouvir os doentes mas sim - oh prazer, oh ventura! - ouvir-se a si próprio!

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