Everything But The Girl. As vezes que me questionei do porquê do grupo se chamar assim. Tão meu não entender a coisa não dita.
Mas hoje percebi.
sexta-feira, 29 de julho de 2016
Vinte e Nove de Julho
quarta-feira, 20 de julho de 2016
Vinte de Julho.
Quando
eu era criança havia na Estrada para a Ribeira um Monte Sinai.
Um
pessoa à custa de contar histórias e histórias repete-se e
repete-se. Se me prestam atenção sabem que Ovar está construida
sobre areia. A praia de que falo vai até S.João de Ovar. Na Estrada
que vai para a Ribeira havia uma duna alta com algum arvoredo mal
preso no alto – lembro-me das raízes saidas na encosta da duna.
Não sei quem me levou lá, éramos dois - não é sempre assim na
infância? - em determinado sítio da Estrada metíamos para a
direita e no meio de um descampado lá estava, uma duna que a memória
infantil faz dela maior ainda, metros e metros teria de altura,
subimos e depois escorregámos pelas areia inúmeras vezes, era essa
a magia, a praia no campo, é a Ribeira um conjunto de leiras
humedecidas – às vezes inundadas – pela Ria, logo ali.
Uma
infância curta e escassa de momentos como aquele que acabei de
descrever amplia e ilumina estas coisas que se lembram. Uma infância
não curta mas um pouco deserta, isso: eu subi ao Monte Sinai.
Fui
o mês passado à procura do Monte Sinai. A Estrada da Ribeira tem
dois tempos. Primeiro a Estrada para a Ribeira propriamente dita, que
vai até à Capela de Santa Catarina. Estrada, ou melhor dito Rua que
alarga aqui e ali porque a frente das casas servia antigamente como
eira para a debulha do milho. Mais ainda na Rua do Cruzeiro, que
parte da Capela de Santa Catarina em direcção para a Marinha. Eu
vi, eu vi as ruas de que falo afogadas com espigas e espigas de
milho, um carreiro ao meio para que de ruas pudessem ainda merecer o
nome.
Da
Capela de Santa Catarina para Sul é a Estrada para o Cais da
Ribeira, que quase é um pontão que progride por entre terrenos não
raras vezes alagados, o Cais uma estrutura rectangular onde hoje, às vezes, ainda há
uma carcaça de um moliceiro, haverá quem as rode, nem sempre é a
mesma, parece-me.
Não
encontrei o Monte Sinai da minha infância. Destruído, aplanado,
construído por cima, não sei. Não sonhado. Eu sei que ele esteve lá
naquele dia em que escorreguei por ele abaixo todas as vezes.
quarta-feira, 13 de julho de 2016
Treze de Julho.
'O viajante reconhece o pouco que é seu, descobrindo o muito que não teve nem terá. '
Fala de Marco Polo em 'As Cidades Invisíveis', de Italo Calvino.
segunda-feira, 11 de julho de 2016
Onze de Julho.
Portugal mudou.
Agora metemos gasóleo na Rede Poupança. Simples, gasóleo simples,
os aditivos afinal uma espécie de imposto aplicado pelas empresas de
combustíveis que, como muita medicação, nunca se comprovou
servissem para o que quer que seja. Um posto da Rede Poupança fica
ali na Rua de S.Dinis a descer para o Carvalhido. Vou lá bastas
vezes. O depósito cheio, viro depois à esquerda e derivo para a
Travessa 9 de Abril, exercendo a prioridade que eu tenho sobre quem
quer subir da Rua Nove de Abril pela Travessa da Bica Velha. Sonhei
ou por ali há mesmo um fontanário? Este rearranjo das ruas fez
terminar a Rua 9 de Abril como se um quelho fosse. Depois à direita
a Rua de Monsanto, com a elevada Auto-Monsanto que tantas vezes
devolveu à vida um certo e determinado Citroen AX. Depois rodear um bairro
em cuja escola votei muitos anos e ganhar a recente rotunda, um
exagero circular que me oferece o destino que eu quiser.
Assumir a prioridade
quando se toma a Travessa 9 de Abril é uma coisa que eu conheço
desde sempre. Antes fazia ao contrário e ainda com maior
descaramento, vindo do Carvalhido e a subir S.Dinis, invertia para a
Travessa e fazia parar com valentia quem subia da Bica Velha. Faziam, que eu
acompanhava, sentado ao lado de. Hoje desço S.Dinis depois de
reabastecer, conduzo eu e, depois de tomar a Rua de Monsanto, não há
nenhum lugar de garagem à minha espera, sim uma rotunda, o mundo. Et
voilà.
Ah, e somos Campeões
da Europa de Futebol.
sexta-feira, 1 de julho de 2016
Um de Julho.
Não foi um dia fácil de consulta. Muitos doentes mais suas queixas periféricas, digestivas, cutâneas, auditivas. A lentidão do "sistema". O sono porque foi uma noite mal dormida.
Lá fora cortavam a relva. E o som do cortador de relva lembrava-me da existência de um mundo exterior e que a consulta, tarde ou cedo, acabaria. Era um som amigo, uma distração, um alivio.
Saí da consulta por uma das muitas razões que às vezes é conveniente sair de uma consulta. Quase fui atropelado por um ainda jovem médico que vituperava os computadores, oh os computadores!, e "um lunático que lá fora não pára de cortar a relva, como é possível!". Que não ouvia os doentes, que não os ouvia! Voltei para dentro, a relva continuava a ser aparada, na realidade não era fácil auscultar assim, mas também porque o ainda jovem médico continuava aos berros; ouvia-o bem apesar do aparar da relva e dos ruídos adventícios.
Pensando bem, eu acho que o problema do ainda jovem médico não era ouvir os doentes mas sim - oh prazer, oh ventura! - ouvir-se a si próprio!
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