segunda-feira, 20 de junho de 2016

Vinte de Junho.



Quando os dias não são bons pode uma palavra dar-lhes salvação? Ontem tive um furo à hora de almoço. Não um furo qualquer mas um daqueles que logo te esvazia o pneumático todo. Nunca mudara um pneu neste carro. Pareceu-me um mistério de difícil solução. A roda suplente, uma roda com cariótipo programado para apenas devolver ao carro a autonomia qb para chegar a uma garagem, repousava sob coisas antigas como cadeiras para bebé, garrafas de Monte Velho, um para-vento, lixo diverso. Sobre a jante estacionei à porta de uma pizzaria cara e onde o dono só fala italiano para os estrangeiros que nós não éramos. Comi mal. Mas o pior estava para vir.

Como já disse, a jante do Seat parecia-me não ser acessível aos parcos instrumentos que o losango dentro da roda suplente forneciam. Mandei a minha filha estudar para casa e veio ter comigo um obeso rebocador, nado e criado na freguesia de Paranhos da cidade do Porto. Afinal a intransponível jante abriu-se nas mãos do “meu amigo” com um pequeno ganchinho que revelava os grossos pernos habituais. Eu bem tinha referido ao telefone – em vários telefonemas que tinha feito – que as cabeças que recobriam os pernos tinham no meio um fino orifício sextavado… Perguntaram-me por telefone: “O que é isso, sextavado?” Indignei-me. Sextavadas ao não as cabeças que recobriam os pernos eram de fácil remoção. E o obeso condutor do reboque levou-me sessenta mocas pela aula. E segui para a Norauto.

A Norauto fica perto do Marshopping. E caminhar faz-me bem. A pé a Norauto não fica assim tão perto do Marshopping. O Marshopping tem uma Fnac e uma Bertrand. A Fnac tinha quase toda a discografia da P.J.Harvey em promoção. E o quarto volume daquela saga da Elena Ferrante. A Bertrand não tinha nem uma coisa nem outra. As obras no hall do Marshopping são angustiantes. Saí para a rua. Fazia uma brisa agradável e a Norauto telefonou-me: pneu insalvável, “Goodyear ou Michelin?”. “Goodyear.”, respondi. E fui lanchar ao Leroy Merlin. Há coisas tristes na vida e umas estarão acima e outras abaixo de lanchar no Leroy Merlin. Mas confirma-se: é triste lanchar no Leroy Merlin. Porém a multidão era menor e não me restava alternativa.

Recebi o carro com rodados novos pelas 18h30m. Fui recuperar a companhia da minha filha, jantei em São João da Madeira e – lá – vi o filme “Capitão América – Guerra Civil”. Vimos nós e mais ninguém, pois mais ninguém havia na sala. O filme é basicamente um filme de porrada fina, no sentido em que os filmes do Bud Spencer e do Terence Hill eram de porrada grossa. Tem bons actores e fala mal da ONU, o que está certo. É de uma banalidade atroz elogiar os efeitos especiais.

Antes do filme – e porque o alarme de pressão dos pneus tinha acendido na viagem, o que sempre acontece depois de qualquer revisão ou mexida no carro – fui rever a pressão dos pneus na Repsol ali ao lado. Pressão cujos valores desejados eu desconhecia. Comecei a aferir para a pressão “que estava”. A Cata saiu “para ver”. E disse-me, nonchalante, “Acho que as pressões “é” 2.4 à frente e 2.2 atrás. Vi no tampão da gasolina”. Isto é o que eu chamo trabalho de equipa. Tinha portanto estado a esvaziar os pneus, voltei a enchê-los, reset, ok.

Ao sair do filme esperavam-nos um segurança, o rapaz da porta do cinema, um rapaz da limpeza. Na viagem de volta como na anterior, qualquer solavanco fazia-me temer o pior, um segundo furo, sei lá. Nunca tinha reparado como as nossas auto-estradas têm um piso tão irregular, eu diria traiçoeiro.

Deitado na minha cama, uma e meia da manhã, pensei “Não há bem que sempre dure, mas também não há mal que não acabe! Que puta de dia mais sextavado!” E adormeci.

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