segunda-feira, 23 de maio de 2016

(quase) Vinte e Quatro de Maio.

Se formos pela definição estrita, o meu pai já não tem sobrancelhas. Estas são habitualmente descritas como um desenho harmonioso de uma população pilosa que sublinha mas por cima os olhos e o que eles mais fazem, que é olhar. Essa harmonia é quase sempre domesticada, redesenhada, na mulher, acrescentando ao artifício que - quase sempre - define o olhar feminino. No meu pai essa harmonia já não está, desapareceu, foi-se embora. Porquê? O meu pai quando olha reconhece e cumprimenta, sem mais. Tudo o que era para dizer por ele está assim dito. O que haveria mais de especial para ele dizer? Especial é toda a vida e ele já comprou todos os volumes da mesma e dispensa leitura adicional. O meu pai hoje por hoje só faz releituras. 

Invejo-o, às vezes. Mas não desespero. Agora que reparo, estão cada vez mais desorganizadas  as minhas tão desanimadas sobrancelhas.


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