Não tenho boas lembranças de nenhum Natal. Com a excepção, espero que verdadeira, de uma vez, ao sair de casa dos meus avós para voltar a casa, criança, a Estrada do Furadouro estar debruada com gelo e neve. Foi há tantos anos que já nem sei se aconteceu mesmo ou se foi apenas um desejo meu tão forte que nos meus sonhos se transformou em realidade.
Ontem estavam quinze graus de temperatura no cimo da Serra da Freita. Assim não pode ser. Não sei porque nasci em Ovar. Sou uma espécie de Júlio Dinis que, como sabemos chamava-se Joaquim Guilherme. Refugiado em Ovar por uma doença que ele transportava consigo, pedia a Deus uma montanha, que em Ovar não há. Arouca, por ex., teria sido uma opção mais interessante. Uma terra que dá o nome a uma raça de bois não será de desprezar. E que vende os seus doces manjares não na rua principal mas à saída, num lugar que poeticamente se chama "O Burgo". Estou a mentir, claro, outro dia farei a minha declaração de fidelidade eterna à minha terra, hoje não quero. Acontece que decidi ontem subir à Serra da Freita e tais temperaturas, pareceu-me, faltavam ao respeito a tão bonito altiplano. Altiplano este que fica a 800m de altura e de onde se vê a Ria e o Mar Oceano. A Frecha da Mizarela estava bonita como sempre, um dia deixarei de lhe faltar ao respeito e hei-de me aproximar dela a pé. Ao longe, do outro lado da garganta funda, a aldeia de Castanheira e o rectângulo descarnado onde aparecem delimitadas para o turista ver as pedras parideiras. Em Albergaria da Serra, que antes se chamava das Cabras, tivemos que rodear uma maciça vaca arouquesa, cornos do tamanho de braços, e que literalmente estava no meio do caminho a criar como que uma rotunda. Suponho que se não tivesse existido respeito pelo correcto sentido do trânsito o animal ter-me-ia atacado.
Depois lanchámos em Arouca. À porta do Mosteiro de Arouca dois restos de árvores centenárias - oliveiras? - estavam disfarçados de cogumelos dos Schtroumpfs.
Pensando bem, fico vareiro.
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